Um resumo por Iohan T.C. Rübenich
A jornada que deu origem à Nuclearq começou vários anos atrás, ainda durante a graduação de Arquitetura e Urbanismo, no primeiro semestre de 2015. Tinha o objetivo de realizar um estudo sobre o crescimento no número de desastres naturais no Brasil e no mundo, com o intuito de desenvolver algum tipo de tecnologia nova para cenários de calamidade pública. Assim iniciaram as pesquisas, as publicações de artigos na área, e o desenvolvimento dos projetos que culminariam no projeto de graduação e tese de mestrado/doutorado intitulado “Estratégia de Defesa Civil: Sistema de abrigo emergencial para situações de pós-desastre hidro-meteorológico no Rio Grande do Sul”.
Minha família paterna sempre esteve envolvida com as carreiras militares, e pelo lado materno, o interesse nas áreas da saúde e do homesteading sempre nos fez seguir uma mentalidade mais sobrevivencialista e prepper, por assim dizer. Durante minha infância, lembro de testemunhar a marcação bem definida das estações do ano, de seus climas característicos e também da intensidade com a qual nos impactavam na cidade e no campo. Com o passar do tempo, a nítida noção de que os desastres naturais estavam não apenas aumentando em número, mas em capacidade de estrago também, decidi dedicar minha carreira de pesquisa a esta área bem específica da construção civil.
E assim começou a jornada de levantar inúmeros dados e fontes governamentais presentes ao redor do globo. Foram centenas de leituras em artigos, livros, teses e notícias necessárias para chegar à conclusão que você verá em meu trabalho: Sim, estamos vivendo um crescimento exponencial da ocorrência de desastres naturais no mundo todo, e no Brasil não é diferente. Ao todo foram 146 páginas de pesquisa; 265 páginas de anexos, tabelas e mapas; além de 42 plantas técnicas e mais de 60 arquivos em 3d desenvolvidos no decorrer de 4 anos… esta foi a extensão do projeto).
Para quem tiver interesse, vou deixar ao final do texto o link da pesquisa de 2015 (somente a publicação oficial… os projetos seguem em segredo de estado rsrs).
A PESQUISA:
O estudo realizou um levantamento de todos os desastres com vítimas ou danos materiais verificáveis num período de 25 anos, de 1990 a 2015; e o que se encontrou foi um aumento quase exponencial nos desastres hidro-meteorológicos no Brasil. Durante a década de 90 houve mais de 10 milhões de afetados por desastres deste tipo em nosso país (um período de 10 anos)… no entanto, ao final do período estudado, de 2010 a 2015, (metade de uma década) foram registrados mais de 34 milhões de vítimas diretas ou indiretas de desastres deste tipo só no Brasil (pag. 44 em diante da pesquisa / fonte de dados: EM-DAT The OFDA/CRED Internacional Disaster Database. <http: //www.em-dat.net>, UCL – Bruxelas, Bélgica).
Desta forma, tendo a justificativa para realizar uma pesquisa de inovação tecnológica em habitação, iniciou-se o esforço de criação do projeto Human Shell.
O PROJETO
A ideia central deste projeto foi desenvolver um sistema de abrigos de emergência que pudesse ser operado pelas Forças Armadas, e que deveria ser empregado no auxílio de desabrigados e refugiados no pós desastre em território nacional. O modelo de abrigo foi projetado de forma modular, para poder ser compactado para o transporte e que pudesse ser entregue no local alvo de forma rodoviária, férrea, náutica e até mesmo por despacho aéreo.
Foram desenvolvidos 06 modelos de abrigo, com funções diferentes, de modo a entregar toda a infraestrutura necessária para erguer uma cidade temporária por até 180 dias, ou durante a duração dos esforços da Defesa Civil. Todos os módulos habitacionais seriam entregues com reservatório de água, sistema de despejo de degetos, alimentação e roupas, material de higiene, sistema de captação de energia e comunicações; tudo dentro de um módulo com 25m2, contendo sala de estar, dormitório, cozinha e banheiro… e que quando compactado, teria apenas o tamanho de um container pequeno.
Além do módulo habitacional, seriam entregues módulos com funções específicas para a manutenção da vida dos abrigados durante o tempo de recuperação local. O módulo de saúde é capaz de realializar a triagem de casos e solicitar o encaminhamento de feridos graves para os hospitais, além de poder fornecer o serviço de ambulatório para pequenas cirurgias.
O módulo de alimentação está capacitado para permitir a produção massificada de refeições para o grupo de habitantes, além de receber e organizar a distribuição de doações de alimentos e água. O módulo de educação está munido de ferramentas que possibilitem a continuidade do ensino escolar, no caso da interrupção deste. O módulo de serviços organiza a gestão de recursos e profissionais de manutenção do campo e o módulo administrativo cuida das operações gerais e de comunicação oficial.
Ao todo, o projeto planejou módulos suficientes para um público de até dez mil refugiados, podendo ser entregue em qualquer lugar do cone-sul brasileiro dentro de 24 horas do acionamento, estando os módulos baseados em uma instalação adicional militar na cidade de Santa Maria, no centro do estado do Rio Grande do Sul. Foi projetado para atuar como uma nova secretaria público/militar de resposta aos desastres, um órgão governamental de sobrevivência populacional.
No entanto, o projeto que iniciou como um sistema de abrigos de sobrevivência logo começou a ser transformado em ferramenta habitacional para as mais diversas funções; de estação de pesquisa para locais remotos à abrigo modular para ser utilizado em cenário de exploração espacial. Desta forma tive o privilégio de ver meu projeto participar de concursos e eventos sobre arquitetura emergencial no Brasil, Alemanha e Canadá, e até mesmo no Mars Hab Challenge da Nasa em 2018, como inovação tecnológia em arquitetura, engenharia e mecânica.
Infelizmente o progresso tem um custo, e o grande desafio de desenvolver uma tecnologia com tamanha complexidade é basicamente financeiro; apenas iniciativas governamentais ou de grandes multinacionais da tecnologia poderiam ser capazes de garantir a fabricação deste sistema… ainda que um módulo apenas não seja necessariamente caro de produzir. O projeto foi prototipado e testado em escala, de forma a complementar a pesquisa; e segue até hoje sendo aprimorado e na busca por financiamento.
Mas onde uma porta fecha, outra se abre…
A NUCLEARQ
Apartir de 2018, testemunhando o interesse público mas a falta de viabilidade financeira para a realização do projeto Human Shell, retomei os estudos de projeto com um novo pensamento: “- e se eu adaptasse parte dessa tecnologia para uso residencial… na construção civil mesmo?!”.
Foi assim que surgiu a ideia desta empresa! Os anos que seguiram foram utlizados para aprimorar a pesquisa paralela e testar sempre que possível em projetos e construções, as técnicas que estão disponíveis para você hoje, através de nossos serviços. Nossa linha de projetos em esquadrias seguras, os sistemas de abastecimento redundantes, de coleta de recursos, de reaproveitamento de materiais… tudo surgiu da ideia inicial Human Shell.
Hoje procuramos atualizar cada vez mais nossa tecnologia de projeto e construção para entregar casas que previnam a ocorrência de vítimas durante desastres naturais, com o bônus de entregar uma arquitetura que também é capaz de proteger contra a insegurança urbana.
E assim você foi apresentado ao meu projeto de inovação tecnológica e também a pesquisa climática que deu origem à Nuclearq. Este foi um mega resumo de tudo que foi feito e vivido nos últimos 9 anos, e um vislumbre daquilo que está por vir! O projeto Humal Shell segue em desenvolvimento e será construído um dia, tenho certeza. Até lá, esperamos conseguir melhorar a tecnologia construtiva de nossas cidades, garantindo maior segurança e capacidade de sobrevivência para todos.
Espero que tenham gostado deste relato.
Um abraço! Att. Arq. e Urb. Iohan T.C. Rübenich
Link do resumo de projeto, em PDF: Projeto Human Shell – Iohan Rübenich 2015
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